quarta-feira, 21 de abril de 2010

Invertendo os fatos

No morro do Trunfo mora Brotinho. Sempre que o chamavam assim lembrava-se do seu pai; a ele cabia a origem desse apelido. Havia na favela uma moça de longos cabelos negros e olhos escuros feitos jabuticabas e seu pai a chamava de brotinho; o filho caçula por sua vez, chamava a todos por esse apelido e assim ficou conhecido e assim todos o cumprimentava.
Tempos remotos em que Brotinho queria ser policial militar. Todas as vezes que brincavam de mocinho e bandido ele sempre fazia o papel de mocinho.
Hoje sentado na sua varanda visualizava o morro. Havia tomado uma decisão: iria mudar essa história. Era o chefe do tráfico no ali; sua palavra era lei. Era rico, na verdade, era muito rico... e pensando bem... Tanto dinheiro dava muito na pinta... Chamou Faustino, seu secretário particular.
- olha Faustino, tomei uma decisão com relação a nossa favela. A partir de hoje, farei as coisas de outra forma. Sempre ajudamos a comunidade com um bujão de gás, um pagamento de água ou luz, mas agora vou mudar isso...
- Oh chefe né por nada não... O senhor vai fazer o quê? O povo daqui ta acostumado com um churrasco e um rala bucho.
-Eu sei Faustino só que pra tomar conta desse pedaço é preciso ser mais esperto que as autoridades. Eles alegam que aqui não precisam de parques, lojas decentes... colocaram uma quadra descoberta e chama aquilo lá de lazer. Até a única escola foi fechada, pois os professores se negavam a trabalhar em meio a tiroteio. Agora vamos fazer diferente. - A conversa foi encerrada ali e Brotinho pediu a Faustino para sair.
Desde aquela conversa fazia três anos... Na favela havia agora Escola de ensino fundamental e médio um pequeno shoping, parque infantil e uma quadra coberta. Para a comunidade Brotinho era um deus...
Eles não precisavam não precisavam do poder público para existirem como pessoa. Eram felizes ali. Porém nem todos estavam satisfeitos com essa forma de administrar do líder, principalmente os caras que viveram a roubar, matar e que trabalhavam na comunidade. Eles exigiam cada vez mais uma posição de Brotinho com relação à circulação de policiais militares na favela.
Durante uma noite, a casa de Dona Tina estava cheia de gente para assistir ao jogo do Flamengo. Era intervalo e todos tomavam cerveja e comiam churrasco. Os caras chegaram atirando. Por um momento Brotinho visualizou o rosto do líder, pouco antes de levar um tiro na cabeça. Depois daquele dia tudo mudou na favela: o parque foi destruído, o shoping e a quadra fechados. O povo voltou a ser coagido e a não ter direitos.
Distante dali acontecia uma reunião entre governo e militares.
- Agora é a nossa vez. Naquele morro é o governo que volta a mandar...




Salinas, 30 de junho de 2008.
Meiriara



Um comentário:

Jairo Cerqueira disse...

Tropa de Elite II chegou aí, para mudar esse quadro. "Magari"!!!
bj